quinta-feira, 24 de maio de 2007

Artigo - Antonio Carlos Robert Moraes

EM DEFESA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Antonio Carlos Robert Moraes
especial para o jornal Folha de São Paulo

Quando o atual governo do Estado de São Paulo decidiu promulgar um decretoalterando a estrutura das universidades públicas estaduais, gerou apossibilidade da crise que agora vivenciamos. Tal medida não constava doprograma de governo apresentado pelo candidato a governador, nem foilevantada em sua campanha eleitoral. Por isso surpreendeu a comunidadeuspiana, inclusive aqueles que nele votaram.Para utilizar uma expressão popular, foi uma medida "tirada do bolso docolete", incidindo em uma área da administração pública estadual que,comparativamente, não apresentava grandes problemas. Ao contrário, a USPpermanecia com a sua produção acadêmica de qualidade e estava expandindovagas. Cabe assinalar que, para uma proposta que visava "aprimorar" osistema universitário paulista, a medida continha grandes lacunas eimprecisões, como ficou bem demonstrado nas alterações posteriormenterealizadas pelo próprio governo estadual, e nas dúvidas que persistemsobre suas atribuições até o momento.Em face ao quadro descrito, e dada a omissão dos dirigentes da USP que nãose manifestaram quando da publicação do decreto, instalou-se um clima deinsatisfação na comunidade uspiana. Tal terreno possibilita atitudesradicais e mesmo impróprias, como a invasão do prédio da reitoria por umgrupo minoritário, que se manifestou como "vanguarda" política noprocesso.Sem dúvida, essa ação desencadeou o debate que agora se trava, porém aatual situação de impasse, que persiste, é altamente lesiva à instituição.As atividades-fim de ensino, pesquisa e extensão são prejudicadas, emunicia-se os interesses contrários à universidade pública com argumentosfalaciosos, que passam à sociedade uma visão distorcida da vidauniversitária.Órgãos de imprensa inescrupulosos fartam-se nessa situação, apresentandoos docentes como uma corporação privilegiada e os alunos como rebeldesirresponsáveis. Esta visão deturpada e intencionalmente dirigida para adestruição de um bem público não releva os enormes serviços prestados pelaUSP ao longo de sua existência. Todo o sistema universitário brasileirolhe tem como matriz geradora de quadros especializados e como referênciainstitucional.A pesquisa de excelência ali praticada, responsável por quantidadeconsiderável da produção humanística e científica nacional, se expressadesde a geração de patentes de remédios de suma importância para a saúdehumana até a elaboração de interpretações básicas para o entendimento denossa história, desde o desenvolvimento de tecnologias vitais para o paísaté a reflexão sobre posicionamentos que aprimoram a nossa sociabilidade.Além disso, cotidianamente, a universidade presta diversificados serviçosà população, seja no campo do atendimento médico, da elaboração de laudostécnicos, de difusão da cultura, entre outros. Enfim, seria longa a listados benefícios que a universidade cria para a sociedade que a mantém.Pequeno é o seu custo em comparação com outras aplicações dos recursospúblicos.Por essa tradição já consolidada, a Universidade de São Paulo não pode sercolocada na "bacia das almas" do jogo de interesses mercantis, partidáriosou político-eleitorais. A sociedade paulista tem de defender este seupatrimônio, lutando pela manutenção de sua autonomia, de sua independênciaadministrativa e de pensamento. O que não significa falta de transparênciana prestação de contas (como parece sugerir o discurso governamental).

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ANTONIO CARLOS ROBERT MORAES é professor-titular do Departamento deGeografia da FFLCH, foi secretário da Adusp e representante dosprofessores-assistentes e dos professores-doutores no ConselhoUniversitário da USP

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